sábado, 27 de novembro de 2010

Benefícios do tai chi chuan em idosos

Resumo
    Tai Chi Chuan tem sido largamente praticado na China há séculos. O objetivo deste artigo é resumir os resultados de pesquisa sobre o Tai Chi Chuan apresentados na literatura. Foram selecionados 41 artigos publicados na base de dados MEDLINE entre 1989 e 2002, que estavam de acordo com o critério de inclusão. Tai Chi Chuan é um exercício de intensidade moderada que, no paciente idoso, tem mostrado: melhora do equilíbrio; promoção de estabilidade postural; melhora da função cardiovascular e ventilatória; reabilitação de pacientes com infarto agudo do miocárdio e artrite reumatóide; e redução da dor e do estresse. É benéfico no controle mental e flexibilidade, melhorando a força muscular e reduzindo o risco de quedas no idoso. São necessários estudos adicionais sobre os efeitos do Tai Chi Chuan para esclarecer quais os outros grupos beneficiados e dar direção a futuras pesquisas.
    Unitermos: Tai Chi Chuan. Idoso. Equilíbrio. Quedas. Aparelho cardiorrespiratório.     

Introdução
    Ao processo de envelhecimento estão associadas perdas sociais, cognitivas, neuromotoras e metabólicas capazes de comprometer seriamente a qualidade de vida do indivíduo idoso, levando-o à perda de autonomia e à dependência física, psicológica e econômica, com relação à família e à sociedade



 

Tai Chi na Universidade Católica de Brasília 

    Já está bem estabelecido que a prática regular de atividade física contribui para o envelhecimento saudável e aumento da expectativa de vida32. Exercícios físicos praticados regularmente inibem alterações orgânicas que se associam ao processo degenerativo, contribuem para a reabilitação de determinadas patologias que podem aumentar os índices de morbidade e mortalidade, agindo também sobre a saúde mental e a eficácia cognitiva14, 53. Por esta razão, têm sido criadas estratégias de ações com o propósito de estimular os idosos a aderirem à prática regular de atividade física.
    O Tai Chi Chuan é uma modalidade de Ginástica Chinesa que, depois da musculação, é a de maior aderência entre os praticantes idosos e tem sido citado como capaz de incrementar nesta população ganhos de condicionamento físico, força e equilíbrio, ajudando também na prevenção de quedas13,20,42.
    Este trabalho teve por objetivo revisar os resultados de pesquisa publicados em língua inglesa sobre os benefícios do Tai Chi Chuan em pessoas idosas. Para inclusão só foram selecionados os artigos sistematicamente citados como base para outros trabalhos disponíveis na base de dado MEDLINE entre 1989 e 2002 e aqueles cujas metodologias permitissem comparação entre estudos.

Tai chi chuan
    A estruturação formal do Tai Chi Chuan só ocorreu entre os séculos VIII e XIII d.C., como uma arte marcial derivada do Kung Fu praticado no templo budista de Shaolin. Este Kung Fu foi primeiramente denominado "Tai Chi Chuan Wudang" devido ao fato de ter sido sistematizado no templo budista de Wudang.
    Depois que saiu do templo Wudang, o Tai Chi Chuan evoluiu em várias direções. Nos primeiros tempos foi aplicado como arte marcial pura, sendo que resquícios desta época ainda estão presentes na forma de competições de luta de Tai Chi Chuan em Cingapura e Hong Kong. Apesar disso, o ramo que mais se desenvolveu foi o do Tai Chi Chuan como atividade física para a saúde, que incorporou conceitos da filosofia, da medicina e de outras ginásticas e práticas terapêuticas chinesas, sem descartar completamente o aspecto de arte marcial8, 11.
    Há, pelo menos, cinco estilos descendentes diretos do Tai Chi Chuan Wudang (Chen, Yang, Wu, Wu Hao e Sun) e incontáveis estilos menores, praticados sem metodologia uniforme e com ênfase na forma, como parte do patrimônio da cultura chinesa. Em 1956, o Comitê Esportivo Nacional Chinês (órgão similar ao Ministério dos Esportes) reuniu professores de educação física e médicos para desenvolveram uma seqüência curta do Tai Chi Chuan contendo elementos dos vários estilos, no intuito de regulamentar, popularizar e facilitar a prática, tanto terapêutica quanto desportiva da modalidade.
    A Seqüência Curta do Tai Chi Chuan ou Tai Chi Chuan Simplificado e os exercícios que compõem esta prática foram publicados numa série de cadernos pedagógicos oficiais, posteriormente reunidos e traduzidos para os principais idiomas ocidentais com o nome de WUSHU - Guia Chinês para a Saúde e o Preparo Físico da Família. Este guia para professores descreve e ilustra, em pormenores, as diversas técnicas disponíveis para o planejamento da prática do Tai Chi Chuan.


Tai Chi Chuan com Idoso




Efeitos do tai chi chuan
    O primeiro estudo em língua inglesa, na literatura científica selecionada, a documentar as respostas fisiológicas do Tai Chi Chuan foi publicado em 1989. Desde então, os potenciais efeitos benéficos do Tai Chi Chuan têm sido investigados tanto do ponto de vista físico quanto psicológico49, 58.

Função cardiovascular e pressão arterial
    Exercícios supervisionados, de intensidade baixa a moderada, são os mais indicados para promoção de saúde em idosos. Os estudos demonstram que, para praticantes desta faixa etária, o Tai Chi Chuan é um exercício de moderada intensidade, que trabalha em valores próximos a 60% da freqüência cardíaca máxima2.
    A prática regular do Tai Chi Chuan produz efeitos favoráveis na função cardiovascular de idosos16,24,26, melhorando tanto a capacidade de trabalho quanto a hemodinâmica cardíaca.
    Alguns estudos demonstraram melhora na função cardiovascular e redução de pressão arterial em idosos praticantes de Tai Chi Chuan, mas um trabalho mostrou a pressão arterial inalterada.
    Comparando os efeitos de exercícios aeróbios de moderada intensidade com programas de Tai Chi de intensidade leve na redução da pressão arterial, em idosos previamente sedentários, encontraram-se efeitos similares10, 60. Entretanto, verificou-se que os resultados produzidos pelo Tai Chi Chuan são menores que os das atividades aeróbias padrão, como caminhar; recomendando-se, portanto, que ele deva ser praticado juntamente com exercício regular aeróbio moderado, mais que no lugar do mesmo4.
    Efeitos favoráveis da prática de Tai Chi Chuan também foram observados em pacientes com infarto agudo do miocárdio e em pacientes revascularizados3, 29.

Função ventilatória
    As alterações da respiração verificadas durante a prática dos exercícios do Tai Chi Chuan sugerem melhora na função respiratória27, 63 para as variáveis: freqüência respiratória, ventilação (VE), consumo de oxigênio (VO2) e equivalente ventilatório (VE/VO2).
    Estudo comparando freqüência ventilatória, equivalente ventilatório e taxa de ventilação do espaço morto por volume corrente (VD/VT), durante a prática do Tai Chi Chuan e durante a realização do teste ergométrico submáximo, encontrou diferenças significativas que sugerem maior eficiência da função respiratória no primeiro, possivelmente devido à ênfase dada aos exercícios respiratórios nesta modalidade2.

Força muscular
    Os idosos praticantes de Tai Chi Chuan apresentaram menor perda da força nos membros superiores durante o teste de preensão manual53. O desempenho manual manteve significância mesmo quando um grupo de praticantes de Tai Chi Chuan foi comparado com outras modalidades tradicionais59. Melhoras significativas também foram verificadas para a força dos músculos extensores e flexores dos joelhos de praticantes de Tai Chi Chuan em relação a grupo controle26 e para o pico de torque extensor do joelho, no protocolo concêntrico e excêntrico, reforçando a teoria de que o treinamento de Tai Chi Chuan em idosos pode aumentar a força e a resistência muscular dos extensores dos joelhos.

Equilíbrio e quedas
 
 O Tai Chi Chuan leva a ganho em força, coordenação e flexibilidade, resultando em menor incidência de quedas em pessoas idosas.
    Entretanto, o treinamento isolado de equilíbrio não mostrou reduzir o risco de quedas, enquanto intervenção focalizando múltiplos fatores de risco produziu proteção significativa contra quedas. Este achado sugere que o benefício do Tai Chi Chuan envolve outros mecanismos, além da simples melhora no equilíbrio, dentre eles a redução do medo de queda, o treinamento dos reflexos neuromusculares, o fortalecimento dos grupos musculares associados, a diminuição das oscilações e a melhora da flexibilidade.




 Dia Mundial do Tai Chi no Parque da Cidade em Brasíla


 Osteoartrite e artrite reumatóide

O Tai Chi Chuan demonstrou ser seguro para os praticantes com artrite reumatóide. Foram observadas melhoras no edema e dor articular, no tempo de caminhar e na força de preensão manual, não havendo deterioração clínica nestes pacientes quando comparados ao grupo controle. Não há sugestão de que o Tai Chi Chuan possa diminuir a deterioração da cartilagem e do osso, mas que aja como terapia adjuvante para o tratamento médico.
    Os movimentos do Tai Chi Chuan satisfazem as regras básicas de reabilitação para pacientes com osteoartrite. Eles são fáceis de aprender, requerem o uso das articulações maiores do corpo, servindo como uma atividade de baixo impacto e baixo risco, capaz de promover melhora na auto-eficácia, qualidade de vida e mobilidade funcional em idosos com osteoartrite. O início precoce de exercícios de baixo impacto no curso da osteoartrite pode diminuir a severidade da dor e da disfunção articular, assim como os efeitos deletérios secundários na força e equilíbrio.

Benefícios psicológicos
    Os indivíduos praticantes de Tai Chi Chuan demonstraram aumento da confiança no equilíbrio e na realização dos movimentos. Entre os efeitos notados nas atividades da vida diária estavam: aumento da percepção do corpo e de diferentes facetas do bem-estar, redução do estresse, fazer coisas que achavam que não podiam fazer, sensação de vigor e força, melhor coordenação e equilíbrio, diminuição da ansiedade e percepção da dor, aumento da atenção, da confiança e do relaxamento, melhor desempenho mental e senso de realização.

Contra-indicações
    Embora a maior parte dos estudos revistos mostre os benefícios do Tai Chi Chuan, verificou-se que nem todos os indivíduos se beneficiam com esta prática, havendo também situações em que a mesma é contra-indicada, tais como em indivíduos com diagnóstico de angina, arritmia ventricular ou ambos. Assim é necessária avaliação inicial para determinar a tolerância do indivíduo cardiopata ao exercício e outras possíveis contra-indicações.


Conclusão
    Os trabalhos revistos mostram que o exercício do Tai Chi Chuan é benéfico na função cardiorrespiratória, controle mental, flexibilidade e controle do equilíbrio em idosos. Ele melhora a força muscular e reduz o risco de quedas neste grupo etário.
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    Embora a maioria dos estudos tenha sido bem desenhada, dois fatores foram sistematicamente omitidos ou apenas parcialmente contemplados: o programa de treinamento e o controle das variáveis de confundimento.

    Com relação ao programa de treinamento, apesar de haver trabalhos reconhecendo que o Tai Chi Chuan é uma modalidade bastante heterogênea, é comum a omissão da especificação do tipo de técnica utilizada pelo pesquisador. Grande parte dos estudos refere ter utilizado o Estilo Yang de Tai Chi Chuan. Entretanto, de acordo com os trabalhos revistos, existem dezenas de variações dentro deste estilo e esta mesma variação está presente também dentro dos outros estilos. A simples menção do estilo e a não inclusão do programa de exercício, bem como os dados relativos à intensidade e nível de complexidade das práticas, gera um importante viés de aferição, dificultando a comparação e a discussão dos resultados de um trabalho por outros pesquisadores e inviabilizando a sua replicação.

    Portanto, estudos relacionados à Metodologia de Ensino do Tai Chi Chuan, que discutam o planejamento e padronização da prática, fazem-se necessários para permitir essa interlocução entre os diversos autores.
    Há também outros fatores como história pregressa individual, ocupação, gênero, idade, motivação, uso de medicações, presença de contra-indicações ou de doença crônica, dentre outros, que podem contribuir para os achados dos estudos apresentados ou interferir nos resultados encontrados, necessitando ser considerados em próximos trabalhos a fim de que se evite o viés de confundimento.

    Portanto, mais pesquisas são necessárias para explorar estas áreas, devendo ser realizados estudos longitudinais para confirmar os efeitos do treinamento de longa duração do Tai Chi Chu Chuan.


* Diretora do Mestrado em Gerontologia,
Universidade Católica de Brasília (UCB)
Profa. do Mestrado em Educação Física,
UCB. Profa. Titular de Clínica Médica,
Universidade de Brasília (aposentada).
** Prof. de Educação Física (UnB).
Especialista em Atividades Físicas Terapêuticas (UnB).
Mestrando em Educação Física (UCB).
Prof. de Tai Chi Chuan e Ioga
*** Prof. do Mestrado em Educação Física, UCB.



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