terça-feira, 13 de setembro de 2016

A ESSÊNCIA DAS POSTURAS E DO MOVIMENTO NA PRÁTICA DO TAI CHI







As formas existem em todas as artes marciais orientais e nelas encontramos os movimentos e as posturas corporais característicos da arte em questão. As posturas podem ser concebidas como locais num mapa pelos quais passamos, e os movimentos podem ser imaginados como os caminhos que ligam essas posturas. Assim, a forma é um tipo de mapa em movimento.  

A essência das posturas do corpo

A raiz está no pé, o ataque é da perna, a direção é da cintura e a figura está nos dedos das mãos. 

"Como qualquer outro assunto que é muito especializado, o Tai Chi desenvolve em muitos dos seus praticantes uma atenção rigorosa aos pormenores. Para alguém que está de fora, a posição exacta do pé ou da mão, talvez pareça trivial. Para alguém que está bastante envolvido com a arte, uma ligeira alteração do peso ou do acto de virar o pé dez graus, faz muita diferença: um praticante consciente percebe essas pequenas mudanças como uma sensação física real. Esses pormenores, portanto, desempenham um papel importante na realização regular das formas (...)

" Paul Crompton, The Elements of Tai Chi, 1990

1. Cabeça A sua posição é rigorosa: o praticante deve treinar a cabeça, evitando que os músculos do pescoço fiquem tensos. A cabeça não deve inclinar-se para os lados, nem oscilar. Muda-se a direcção da cabeça conforme a direção do corpo, movimento que deve ser acompanhado pelo olhar. Pode direcioná-lo para a mão que se encontra numa posição superior, ou através desta, para o vazio, mantendo sempre a cabeça direita. Não olhe para o chão porque isso implicaria entortar o pescoço e fazer erguer os ombros. A face deve estar descontraída, o queixo para dentro e a boca fechada. A ponta da língua deve encostar, descontraidamente, o palato. 

2. Tronco Ao treinar Tai Chi deve manter o tronco direito e cômodo, sem curvar-se para a frente ou para trás, nem inclinar-se à esquerda ou à direita, o que poderia deixar as costelas e os músculos do ventre tensos. A. Peito e costas: "Afundar o peito e endireitar as costas" significa que não se deve encolher nem erguer demasiado o peito. À medida que os movimentos dos braços são efetuados, os músculos das costas estendem-se; nessa altura, os músculos do peito relaxam-se, o que permite submergir a respiração para o abdômen, tornando-a solta e livre. A coluna deve estar direita deixando a cabeça, o tronco e os quatro membros actuar livremente. Aja como se a sua coluna vertebral fosse um fio com contas. 

B. Cintura: Tem um papel muito importante na manutenção das posturas correctas já que funciona como o eixo do nosso corpo, durante todas as posturas e movimentos. Conscientemente, pode baixar a cintura e afundar a energia. Não deve endireitar com força para a frente nem a cintura nem o ventre, porque isso prejudicaria a postura do corpo. Relaxar a cintura ajuda as pernas, tornando-as mais firmes, permitindo a execução dos movimentos levemente e com perfeição. Em coordenação com o relaxamento da cintura, endireite a coluna conforme a sua posição fisiológica normal. Manter o equilíbrio através do relaxamento da cintura garante movimentos leves, ágeis e estáveis. C. Nádegas: Para manter a boa forma corporal, é preciso evitar a todo o custo levantar as nádegas. Basta deixá-las estar como estão naturalmente, sem as mover para os lados. Ao relaxar a cintura e erguer as costas, encolha ligeiramente os músculos das nádegas a fim de manter o tronco direito. 

3. Pernas Durante todo o exercício, os movimentos de avançar, retirar e enviar a força, bem como a manutenção do equilíbrio do corpo, dependem sobretudo das pernas. Deve prestar atenção à posição na qual pousa os pés e também à posição das pernas quando altera o centro de gravidade do corpo. De facto, a postura das pernas tem uma função muito importante na imagem do corpo inteiro e na transformação dos movimentos, sendo preciso treinar os vários passos.

Para treinar as pernas, comece por relaxar a cintura, a anca e os joelhos. Assim, ao avançar e retirar, os pés podem levantar e pousar levemente. Ao avançar, pouse em primeiro lugar o calcanhar, podendo depois pisar firmemente o chão e deslocar o peso do corpo para essa perna. Quando dominar a transformação do avançar e do retirar, as suas pernas podem começar a aliviar-se alternadamente do peso do corpo, diminuindo então a tensão e o cansaço dos músculos. Tenha em atenção que os joelhos são uma articulação particularmente importante, a qual deve cuidar sempre. Quando dobrar as pernas, mantenha o joelho em cima do tornozelo, não devendo aquele ultrapassar o meio do pé (excepto nas posições baixas). 

4. Braços e Mãos "Afrouxar os ombros e pendurar os cotovelos" é uma expressão técnica do Tai Chi que salienta a relação coerente entre estas articulações. "Afrouxar os ombros" significa mantê-los relaxados e afundados; se os subir, a energia vai subir com eles, e todo o corpo vai ficar sem força. "Pendurar os cotovelos" significa mantê-los para baixo, de forma a não obrigar os ombros a subir; os cotovelos encontram-se geralmente mais abaixo do que o pulso.

As posições das mãos e dos ombros são geralmente feitas ao mesmo tempo. Quando recolher a palma da mão, dobre ligeiramente o pulso; para abrir a mão, levante-a e mantenha os dedos direitos, mas ligeiramente curvados; ao cerrar o punho, evite fazer muita força. Caso empurre demasiado a mão, o braço ficará esticado, numa posição incorreta; por outro lado, se afrouxar muito os ombros, e não estender a mão para a frente, o braço ficará dobrado, sem força. Por isso, tente manter o braço com um certo nível de curvatura, alongado mas não esticado. Ao empurrar e recolher as mãos, nunca se perde a força de repente. A essência dos movimentos Andar como um gato e actuar como se esticasse fios... Ao fazer uma forma de Tai Chi, desde a abertura até ao final, é fundamental que a mente conduza os movimentos durante todo o processo, ou seja, é primordial que haja uma grande concentração. Por outro lado, devemos treinar a leveza e continuidade dos movimentos, o relaxamento não abandonado e a agilidade natural. Devem respeitar-se os seguintes princípios: 

1. Tranquilidade No início, acalme o seu espírito para começar os movimentos sem pensar noutros assuntos. Verifique sempre se a posição da cabeça está correcta (direita), se os braços e o corpo estão relaxados, e se a respiração é regular e natural. Estes são os preparativos básicos para começar o treino. A tranquilidade é essencial durante todo o tempo, tanto nos movimentos simples como nos complicados, nas posições elevadas e nas baixas. A total dedicação da atenção garante que se evitem perturbações nos braços e nos pés, no ritmo e na ordem dos movimentos. O principiante costuma distrair-se ao olhar à sua volta e pensar em coisas que nada têm a ver com o exercício. Através dos treinos deve tentar conhecer, perceber e harmonizar a mente, os movimentos e as posições corporais. 

2. Relaxamento O relaxamento dos músculos e das articulações durante todo o exercício, mesmo estando de pé, é muito importante. Isto não significa preguiça ou distração. Deve usar a mente para controlar os movimentos e não a força bruta ou endurecida. Tente levar o corpo a usar uma força regular de maneira a sustentar movimentos correctos e estáveis. Quando fizer força com alguma parte do corpo, relaxe os músculos das outras partes. O principiante controla mal os limites da força que 4 deve exercer: basta evitar ficar tenso e tentar relaxar-se. Daqui, passe gradualmente para o concentrar de forças sucessiva e integralmente.

3. Sucessão e Coordenação Pela teoria, o principiante compreende que a cintura é o eixo de todos os movimentos: o tronco dirige os quatro membros ao actuar. Na prática, torna-se no entanto difícil coordenar bem a mente e o corpo, pelo que não é fácil encontrar esta harmonia. Pode treinar os movimentos singulares (por exemplo, os "passos em arco"), a fim de fortalecer a sustentação das pernas e dominar a essência dos passos. Daí comece a praticar a sucessão de movimentos, juntando os movimentos dos braços e mãos, até conseguir regular todas as posturas. 

4. Distinção entre Falso (vazio) e Verdadeiro (cheio) - o equilíbrio duradouro Esta distinção é fundamental para a prática do Tai Chi: se o peso do corpo está na perna direita, dizemos que esta está "cheia" e a perna esquerda "vazia", e vice-versa. Quando conseguimos separar o cheio do vazio, e fazer a transição de um para o outro sem sobressaltos, giramos o corpo levemente sem usar a força e os movimentos tornam-se suaves e contínuos (por exemplo, quando passamos o peso do corpo gradualmente de uma para a outra perna). Se não conseguirmos efetuar esta distinção, o passo é pesado e vagaroso, e a posição não é firme, não fornecendo equilíbrio e impedindo a continuidade do movimento.

5. Continuidade e Circularidade O Tai Chi é uma prática completa, é "um movimento acompanhado pelo corpo todo". Ao treinar uma forma, e depois de dominar todas as posições e a sequência entre elas, pode tentar concentrar-se na continuidade do movimento: desde o início até ao fim da forma, tente nunca parar, não se fixando em nenhuma postura, mas sem prejudicar a sua execução correta. O que tende muitas vezes a acontecer é que o ritmo de execução aumenta. O equilíbrio entre o ritmo dos movimentos e a continuidade dos mesmos é alcançado pela prática. 

6. Respiração fácil e natural Ao treinar Tai Chi, deve evitar as respirações curtas e tentar respirar novamente pelo abdômen, como quando era criança. É evidente que ao mover-se o nosso corpo necessita de mais oxigênio, mas basta respirar um pouco mais fundo para introduzir o ar suplementar que precisa. Isto não afeta muito a respiração normal e com muita prática todos conseguem superar a contradição entre o exercício e a respiração. Coordenam-se os dois segundo o ritmo e o alcance dos próprios movimentos. Mas não force a respiração ao tentar coordená-la com os movimentos: o seu corpo descobrirá como fazê-lo. 

7. Coordenar o inferior e o superior, para a total integração A prática de Tai Chi obriga a que desçamos o centro de gravidade do peito para o tan-tien (uma zona três dedos abaixo do umbigo) e que as pernas sustentem todo o peso do corpo, enquanto o tronco se relaxa o mais possível. São assim necessárias pernas fortes e uma coluna direita. Só após perceber esta separação do inferior e superior, é que podemos emitir a força através das pernas e controlá-la através da cintura, encontrando a real integração de todo o corpo. Os pés, as pernas e a cintura formam um todo, em harmonia com o movimento dos braços e das mãos. 

Os princípios acima descritos não são independentes uns dos outros, mas coerentes: 

Enquanto não houver tranquilidade, não há concentração da mente, portanto os movimentos não podem ser coordenados pela mente; alcançar a sucessão e a harmonia fica assim impossibilitado. Se não dominar o falso e verdadeiro, não haverá equilíbrio, ficando a parte de cima do corpo demasiado tensa, e portanto, não se respirará bem.

 Este texto é baseado nos escritos do Mestre Xuan Wu 




   Taichirajá 

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"Em cada movimento o homem sábio
segue o caminho perfeito".
Lao Tsé

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