segunda-feira, 4 de julho de 2011

ESTAÇÂO INVERNO


Por volta da metade do mês de julho os suaves ventos de outono vão se tornando mais frios e penetrantes anunciando a entrada da mais misteriosa e alquímica das estações, o inverno. Nesta estação toda a natureza busca o recolhimento, o espírito de tudo que se manifesta no reino do visível se oculta em segredo no reino do invisível. Os dias são mais curtos e as noites são mais longas, há predominância da lua e estrelas em contraste com a timidez solar na mecânica celeste.Em regiões mais extremas alguns animais hibernam, rios e lagos congelam, as árvores movimentam sua energia das extremidades para o tronco e, por fim, a concentram nas raízes, visando a sua preservação. As últimas folhas declinam ao solo se decompondo em meio à micro vida e aos elementos que as compuseram, numa concordância com princípio de coesão e unidade da vida, no retorno à origem.
 
Segundo o “ Huang Di Nei Jing “, texto médico com mais de dois mil anos fundamentado no Taoísmo, devemos: “ …deitar cedo, levantar-se tarde. Conservar a vontade para preservar o pensamento. Evitar o frio, procurar o calor. Evitar a transpiração para não desordenar a energia yang conservada no interior. Agir assim é se conciliar com a energia do inverno, com o princípio do Tao para ajudar na conservação”.


Segundo a medicina tradicional chinesa, dos cinco elementos: madeira, fogo, terra, metal e água, o inverno é regido pelo elemento água que está associado à dinâmica energética dos canais dos rins e da bexiga. Assim como a água, o inverno tem ligação com as forças do inconsciente e seus subterrâneos e, por isto, dos sentimentos relaciona-se com o medo. Ao inverno associa-se a energia yin, de polaridade negativa, o feminino, o devocional, a fase de repouso que gera o movimento. Por isto o inverno antecede a primavera. Daí se compreende porque segundo a medicina tradicional chinesa, os rins guardam a energia ancestral, a energia de antes do nascimento, que determina o tempo de vida que ser traz ao nascer, ou melhor, o potencial para isto. ao contrário da energia do ar e dos alimentos, a energia ancestral não é renovável, uma vez perdida não se recupera, desta forma para termos uma vida longa e saudável dependemos do uso adequado desta energia. Por isto segundo o mestre Liu Pai Lin:
 
“Não devemos ter medo de envelhecer e sim de que nossos rins envelheçam.“

Das quatro fases da vida: nascimento, crescimento, amadurecimento e morte, o inverno representa a morte, mas não uma morte definitiva e sim uma morte simbólica que traz a renovação, do nível mais profundo para o superficial, como a energia conservada nas raízes que novamente retorna ao tronco, galhos, novas folhas e flores na manifestação de uma nova e exuberante primavera, que não teria força suficiente para explodir em formas, cores e movimento, sem a energia concentrada no inverno, com seu poder secreto, o poder do oculto sobre o que é aparente, o poder do invisível sobre o visível, a força capaz de  fazer emergir a semente que repousa, aparentemente inerte no íntimo da terra.

Estes são os atributos do inverno, que das virtudes lhe corresponde a sabedoria. De acordo com eles podemos compreender a mensagem que nos reserva esta misteriosa estação, mágica e alquímica, que nos convida a moderação no uso de nossa energia vital, introspecção e reflexão  que nos levará a abandonar os velhos e gastos padrões e concentrar a energia em nosso íntimo para o florescimento  vigoroso de novas formas de atuar em nossos eventos, acompanhando os novos ritmos que impulsionam a vida numa constante mutação, com suas mortes simbólicas e essenciais em prol da renovção, do renascimento.

          Com isto podemos concluir com grande alento que, por mais rigoroso, frio e nebuloso que possa ser nosso inverno particular, nós sempre teremos encerrada em nós a possibilidade de uma nova primavera, com toda sua corte luminosa. 

Ronaldo José Fernandes
Massagista, Acupunturista
Professor de Tai Chi Chuan e Kung Fu


by Taichirajá I

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